Não quero compilar acontecimentos em palavras, relembrar cheiros e gostos e promover o download de cada sensação equivalente apenas para escrever. Quero fazer uma pausa, às vezes, para escutar a vida além do olhar e ter no corpo o termômetro de todas as temperaturas possíveis. Sentir as mudanças bruscas e perceber as sutis. (Tudo se transforma numa velocidade inédita sempre). Acolher a calmaria como um afago da paz e me permitir um recolhimento que não se pode publicar, pois é um descanso.
Estar presente na rotina da vida real e arrumar as gavetas em vez de escrever poemas. Viver o amor mais do que falar dele. Valorizar a amizade com gestos de quem se importa verdadeiramente: tão além de dar um like, ou lhe procurar quando convém. Olhar para o outro, não através dele. Molhar as plantas enquanto uma nesga de sol afasta o vento no fim da tarde. Escutar os pássaros enquanto admiro a beleza do jardim. Observar os movimentos delicados do bichano que brinca com os tapetes e se esparrama no sofá pedindo um breve cafuné. Tomar um chá quente depois do banho. Não concordar com sites que dão dicas de que se o outro te trata bem, deve ser culpa por estar te traindo. (Não gosto da irresponsabilidade de artigos que promovem a desconfiança quando receber um mimo faz parte do carinho e da atenção, não de um comportamento suspeito). Não resumir a vida num post nem uma sensação numa hashtag.
Estar off-line pode ser apenas um desinteresse temporário pelo virtual, não um desconforto secreto. Gostar mais de fotos que de legendas em determinados momentos. Guardar o sorriso da paisagem em porta-retratos personalizados. Comprar um livro no dia do escritor, mais que desejar felicitações a ele. Ler o livro.
Estou aqui, em mim, na minha vida, nos manuscritos das dezenas de cadernos que coleciono. Passo perfume para responder um e-mail afetuoso: me enfeito para todas as delicadezas. Não permito que a demanda emocional alheia me pressione a escrever quando pretendo aproveitar mais do silêncio. Tenho passado mais tempo cuidando da minha vida que me ocupando com o feed de notícias alheio.
Desejo delicadezas!
Marla de Queiroz
quarta-feira, novembro 25, 2015
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Ser mulher é ter um turbilhão de sentimentos misturados. É ser um ser humano extraordinário, é ter a doçura em um olhar, mesmo com o coraç...
-
Quem disse que beijar na boca é declaração de amor? Pode ate ser uma das demonstrações, mas eu tenho certeza que seu coração se sente muito...
-
Ser mulher é ter um turbilhão de sentimentos misturados. É ser um ser humano extraordinário, é ter a doçura em um olhar, mesmo com o coraç...
-
“O pequeno príncipe se foi para ver as rosas novamente: “Vocês não são nem um pouco parecidas com a minha rosa”, ele disse a elas. “No mo...
Nenhum comentário:
Postar um comentário