Passamos a rotina nos defendendo, preocupados com as nossas feridas, atacando qualquer julgamento dos nossos defeitos.
Só estaremos amando quando temos medo de machucar mais do que todo o nosso esforço de nos blindar. Quando a dor do outro é maior do que a nossa. Quando a nossa felicidade depende do outro também não ficar triste.
É o zelo, esta palavra poderosa que une amor e cuidado, que concilia fé e atenção extremada.
Enquanto você não se importar com o sofrimento de alguém não conheceu verdadeiramente o amor. É apenas egoísmo ou carência ou vontade de ser amado. Amor é quando você se arrepende de uma grosseria e de uma expressão torta em segundos, você corre para tentar se retratar antes que a sua companhia chore. É o reflexo paterno e materno de colher a criança que caiu no chão, colocar no colo e dizer que não foi nada.
Trata-se de um pessoa tão especial, tão rara, tão fundamental que medirá os gestos e revisará os ímpetos. Faz questão de expor publicamente o que confia em segredo, não dá chance para mentiras e ambiguidades. Não há diferença de postura dentro e fora de casa. Protege com o gesto e com a escrita. É o mesmo na realidade e na virtualidade, sozinho ou em família. A declaração de amor eterno feita no quarto é repetida no Facebook, para ninguém duvidar de que seu coração mora em um único nome. Não há infidelidade de pensamento, porque a lealdade vem antes forrar a intimidade.
Quem protege excessivamente a privacidade tem vida dupla. Senhas são esconderijos de flertes. Se não há nada para esconder não esconda sob o pretexto da discrição.
Zelo mesmo é não ocultar o que quer para os demais daquilo que experimenta a dois. É o que a gente realiza quando o outro não está vendo, é o que a gente fala quando o outro não está ouvindo.
Zelo para jamais ferir quem você gosta, jamais decepcionar, jamais maltratar. Trocar a intolerância do orgulho pela generosidade da admiração, preservando a alegria de ter sido escolhido por quem você escolheu.
Zelo é envolver o cristal da voz em algodão, o vidro das atitudes em plástico-bolha, a devoção em papel-machê.
POR FABRÍCIO CARPINEJAR
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